domingo, 8 de agosto de 2010

Descolonizar a mente e o discurso.

Há algo além daquela velha frase de que são os vencedores quem escrevem a história.  Comecei a pensar neste fato quando entrei em contato com os estudos de transdisciplinaridade que questionam a supremacia da ciência sobre outras áreas do conhecimento. 

Nós, que trabalhamos com os movimentos sociais, que acreditamos na transformação para um mundo mais justo, teorizamos inspirados no mito da modernidade eurocêntrica. Como reivindicamos uma descolonização, se nossas mentes permanecem colonizadas? 

A idéia que temos de nós mesmos, latino americanos, foi construída de acordo com os preceitos ocidentais cristãos, como mostra Walter D. Mignolo em um dos livros mais fascinantes que já li: La Idea de América Latina (resenha 3 pgs). Se não sabemos quem somos, como saberemos o que queremos ser? 

Ilse Scherer-Warren no artigo “Movimentos sociais na América Latina: revisitando as teorias” (pdf 15 pgs)  mostra que “As  "grandes narrativas” sobre os  movimentos  sociais  na  América  Latina, baseadas nas teorias de classe, da tradição marxistas e nos princípios discursivos da modernidade,  enfatizavam  as  tendências  universalizantes  para  os  comportamentos coletivos.” Assim, descolam-se da realidade latino americana, a ponto de não responderem as necessidades dos nossos movimentos sociais.

Ainda no mesmo trabalho, a autora apresenta a contribuição dos estudos pós-coloniais para os atuais movimentos sociais da América Latina, na “releitura ... das trajetórias de classes, de grupos, de  comunidades  e  de  culturas historicamente  subalternas  em  nosso  continente.” É neste ponto que entram as redes de movimentos sociais. Para Ilse, as redes de movimentos tem um papel na “re-significação dos processos de colonização na América Latina” e na “criação de significados em-comum para a superação dos  legados  históricos opressores.” 

A autora cita como exemplos o Movimento Neo-zapatista (artigo de Sarah G. Abdel-Moneim, 26 pgs) e a “Carta de Aliança de Parentesco entre Índias e Negras”, escrita na 1ª Conferência Nacional de Políticas para as Mulheres, realizada  em  2004,  em  Brasília.  

A despeito das confirmações que o Movimento Zapatista nos traz, lanço as seguintes questões: a internet pode contribuir para a criação e exposição do discurso do colonizado? As narrativas dos movimentos sociais brasileiros presentes na web caminham para a criação destes “novos significados para a superação dos legados históricos opressores”?

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